Nossa Seleção

NOSSA SELEÇÃO
COMO TUDO COMEÇOU
      Antes de discorrer sobre o trabalho seletivo do nelore FZM da Fazenda Maringá, seria oportuno recordar como teve início a seleção artificial de bovinos. Sabe-se que os fundamentos da seleção moderna de gado bovino começaram a se desenvolver na Inglaterra no século XVIII, quando de modo mais sistemático, no intuito de consolidar determinadas raças bovinas, se praticou a reprodução de indivíduos com fenótipos semelhantes. Aos poucos, foram sendo elaborados critérios de seleção fenotípica e, com o progresso obtido dessa seleção consanguínea, em algum grau, também se praticou o que se entende como seleção genotípica. O conceito de raça ganhou um significado mais determinado e, em consequência, no início do século XIX, numerosos Herd-books foram iniciados.    
   Hoje ainda existem cães, porcos, cabritos, galinhas, perus e cavalos selvagens, mas em lugar algum do mundo existem bovinos selvagens, tal foi a interação entre o homem e o boi.  Mas, dos primórdios da bovinocultura as biotecnologias genéticas de hoje, vai uma longa história. A existência de animais domesticados coincide com a idade da pedra polida, na pré-história da humanidade. Nessa época, há cerca de pelo menos 13 mil anos, a maior parte dos animais, tidos hoje como domesticados, já havia sido modificada pelo homem. Nesse processo milenar o bovino foi sendo profundamente transformado, segundo os interesses de nossos antepassados. É de se deduzir, então, que os bovinos, não mais submetidos à seleção natural, tal como foi definida por Darwin, passaram de alguma forma, empiricamente, a ter sua seleção ditada pela nossa espécie. Todas as grandes civilizações antigas possuíam números bovinos. Imperadores, faraós, reis e marajás provavelmente interferiram no desenvolvimento da espécie segundo os seus caprichos.  
       Fizemos essa introdução para salientar o fato de que nosso papel como selecionador, por melhor que se desempenhe, sempre será ínfimo perante o enorme trabalho herdado de nossos ancestrais.  E se assim é, a tarefa do selecionador é dar continuidade a esse trabalho de melhoramento genético. É uma tarefa sem fim, não somente porque a seleção, natural ou artificial, segue indefinidamente, mas porque a sociedade muda, e, com ela mudando, mudam os objetivos da seleção. Já há muito tempo foi desenhado o método científico aplicado à seleção e à reprodução de bovinos. No entanto, novas tecnologias reprodutivas e novas ferramentas seletivas foram desenvolvidas nos últimos anos, acelerando o processo de melhoramento genético de forma nunca vista. E esse desenvolvimento tecnológico não para, continua a expandir-se num ritmo acelerado. Ao criador/selecionador cabe aplicar corretamente as ferramentas disponíveis. Mas é preciso reconhecer que o melhoramento genético é algo mais e maior do que a simples aplicação de tecnologias científicas. Há quem acredite tratar-se também de uma forma de arte. Hoje como outrora fatores imponderáveis como a aleatoriedade que ocorre no momento da fecundação, ou a experiência, ou a intuição do criador se incorporam ao processo, e isso pode fazer uma enorme diferença.   
A SELEÇÃO
      A seleção do nelore da Fazenda Maringá se iniciou em 1992, com matrizes nelore padrão de consagradas linhagens, que contavam com mais de 20 anos de seleção (veja Nossa História). Estabelecemos então como nossa meta produzir touros mochos de genética superior para o mercado comercial e touros e matrizes de excelente padrão zootécnico para o rebanho PO, e partimos de um princípio que nortearia nosso caminho: o objetivo da bovinocultura, seja o gado comum ou de raça, é, antes de tudo, atender o mercado consumidor como fundamental fonte de proteínas, de modo sustentável e socialmente justo. Conduzidos por esses parâmetros, focamos nosso trabalho em selecionar em nossos animais características ligadas a esses princípios.
       Iniciamos a seleção inseminando nossas matrizes com o sêmen dos melhores touros nelore mocho das centrais, descartando os produtos que não atingissem o padrão desejado e as matrizes que não produzissem bezerros com bom desenvolvimento ou que apresentassem defeitos em seus fenótipos. Desde o início o controle do desenvolvimento ponderal e as avaliações morfológicas foram ferramentas importantes para aferir os progressos alcançados. Em 2006 nos filiamos ao Programa de Melhoramento Genético de Zebuínos (PMGZ). E, com isso, acrescentamos novas ferramentas ao trabalho que já vínhamos realizando. O processo de melhoramento genético não tem fim. A ABCZ tem hoje o maior banco de dados de bovinos zebuínos do mundo e o nelore é a raça mais numerosa, sendo a variedade mocha a que mais cresce. Considerando que, quando maior a base genética, mais eficiente é o processo seletivo, se conclui que a raça nelore é a que mais evolui na atualidade, de tal modo que um excelente touro de dez anos atrás pode hoje ser apenas um touro medíocre.
       No desenvolvimento de nosso trabalho fomos percebendo que a parte mais fraca do gado nelore como um todo são as características ligadas à reprodução, à fertilidade e às características maternais, como idade ao primeiro parto, intervalo entre partos, perímetro escrotal, habilidade materna etc. Há nas centrais de inseminação um número enorme de touros com ótimas deps. para ganho de peso à desmama ou pós desmama, com ótimas deps. para características de carcaça como musculatura, estrutura, etc. No entanto, é mais que escasso o número de touros com boas características reprodutivas. Nossa seleção busca a construção de animais equilibrados, isto é, com excelentes características morfológicas, reprodutivas e produtivas, o que não é nada fácil de ser conseguido. Chegamos a um ponto em que se tornou extremamente difícil escolher novos touros para dar continuidade à nossa seleção. Nenhum selecionador obtém bons resultados fechando-se sobre si próprio, pois logo terá problemas com o excesso de consanguinidade. O uso das técnicas de inseminação, de transferência de embriões e a utilização exagerada de animais tidos como superiores fazem com que se reduza a base genética a poucos indivíduos, diminuindo a variabilidade genética e aumentando a consanguinidade. Assim, buscando touros que melhorassem as características reprodutivas e não apresentassem defeitos em outras características, tivemos eventualmente de recorrer à utilização de touros nelore padrão, cujo rebanho é bem maior que o mocho, muito embora continuemos a selecionar apenas nelore mocho. Vários estudos já demonstraram que o impacto das características reprodutivas negativas é muito mais danoso ao bolso do produtor do que das características negativas ligadas à produtividade. Daí se conclui que ninguém deveria comprar um touro ou sêmen sem uma atenta análise das deps. do reprodutor.
       Sabe-se que não há animal perfeito para todos os ambientes. Assim a seleção de um animal deve ser feita para o ambiente a que ele se destina, ou seja, o melhor animal é o que, apresentando boas características, também seja bem adaptado. Então novamente é o mercado quem deve definir os rumos da seleção. No Brasil os bovinos em sua imensa maioria são criados a pasto, em sua maior parte de brachiaria, e há uma enorme pressão para o aumento de nossa produtividade com a adoção de tecnologias como uso de sais proteinados, creep feeding e terminação em semiconfinamento ou confinamento. Então entendemos que devemos selecionar animais que tenham um bom desempenho dentro desse espectro que se desenha para a pecuária brasileira. Entendemos que não há incompatibilidade de um animal ter um bom desempenho num pasto de brachiaria, com ou sem proteinado, e manter esse desempenho quando submetido a um semiconfinamento. O que não devemos é criar animais estabulados, com regime de alimentação totalmente diferente do praticado pela pecuária comercial, porque, agindo assim, estaremos selecionando bois para um mundo alienígena. Como também não deveríamos selecionar animais enormes, cuja necessidade alimentar não poderia ser suprida em nossas condições habituais. Por outro lado, não faz o menor sentido selecionarmos touros pensando em que eles servirão nas piores condições, em pastagens degradadas, pois esse fazendeiro que se recusa a investir em sua propriedade jamais investirá na compra de um touro de raça. É comum vermos propaganda de “touros rústicos” e achamos que isso não faz o menor sentido, mesmo porque o nelore já é rústico por natureza. Quando se pretende melhorar a produtividade de uma fazenda de gado, a prioridade deve ser investir em sequência em melhoria das condições ambientais, em genética e por último em instalações.
       Quanto mais itens atribuirmos a uma seleção, mais lento será seu progresso. Um dos pontos a melhorar no nelore é a maciez e o marmoreio da carne. Embora isso seja de vital importância, não há o menor estímulo para que esse trabalho venha a ser feito, seja porque os frigoríficos brasileiros não parecem dispostos a bonificar o produtor pela qualidade, seja pela inoperância do governo brasileiro, que até hoje foi incapaz de regulamentar a tipificação de carcaça. Esse fato merece um destaque especial porque, sendo o Brasil o maior produtor de carnes do planeta, tem um dos mais atrasados sistemas, ou melhor, não tem um sistema de tipificação de carcaça. O mesmo descaso é observado com o couro bovino. Para ter ideia da dimensão do problema, basta constatar que, mesmo o couro brasileiro sendo considerado de péssima qualidade, o país fatura mais com a exportação de calçados do que com a exportação de carne.
    A meta de nossa seleção, que chamamos de integral, é produzir animais que transmitam aos seus filhos ausência de defeitos, com boas características morfológicas, produtivas e reprodutivas, como estrutura adequada, boa musculatura, precocidade de acabamento, velocidade de ganho de peso ao desmame e no pós-desmame, habilidade materna, redução da idade ao primeiro parto e do intervalo entre partos, aumento do perímetro escrotal etc. e a melhora do temperamento e da pigmentação e, naturalmente, a manutenção da boa caracterização racial. Nos gráficos abaixo é possível ver a comparação do rebanho da Fazenda Maringá com a média do rebanho controlado pela ABCZ. Os dados são da ABCZ.
    Peso Maternal - Efeito Direto - Kg

 
    Peso à Desmama - Efeito Direto - Kg
    Peso ao Sobreano - Efeito Direto - Kg
    Ganho de Peso Pós Desmama - g/dia
    Peso à Fase Materna - Efeito Materno - Kg
    Total Materno do Peso à Fase Materna - Kg
    Total Materno do Peso à Desmama - Kg
    Idade ao Primeiro Parto - dias
    Perímetro Escrotal ao Sobreano - cm